quinta-feira, 7 de junho de 2012

Pipa no Céu

Um dia meu irmão do meio saiu pra comprar uma lata de creme de leite pra completar uma receita de estrogonofe e voltou com um cachorrinha nos braços. Os outros três cães que já tinha em casa e a cara de desaprovação nada sutil da minha mãe fizeram com que aquela filhote de labrador viesse morar comigo. Já contei um pouco da história dela pra vocês, assim como a do Totó e recentemente da Branquinha.

Pipa nos deixou na terça-feira. Completaria sete anos semana que vem. Resolvi escrever sobre ela porque acho que no meu papel de humana, apesar de amá-la muito e achar que lhe dava toda a atenção, não soube interpretar bem alguns sinais. Depois que um animal querido se vai assim de repente, ficamos a nos perguntar se chamamos o veterinário na hora certa, se temos sensibilidade pra perceber o que nossos bichos tentam nos dizer. A verdade é que algumas vezes somos flexíveis demais até com nossa própria saúde…

Ela se foi depois de uma parada cardiorespiratória sem explicação. E num primeiro momento, não achamos adequado mandar a nossa amiga pra uma necrópsia. Então seu corpo foi levado a um crematório de animais. Pipa parecia muito cansada e até triste nos últimos dias. Um veterinário que vinha atendendo nossa amiga tinha feito vários testes dois meses antes para tentar detectar diabetes e outras doenças, pois ela vivia sempre controlando peso e passou a beber muita água de uma hora pra outra. O resultado foi normal. Ficamos menos preocupados. Talvez só mesmo um procedimento investigatório bem invasivo pudesse apontar as causas da sua morte. Então como todo mundo faz hoje, saí procurando na internet páginas sobre o assunto.

Um dos textos mais interessantes que achei, de autoria do Dr. William Fortney, trazia justamente a chave pra esse tipo de acontecimento: “Um cão que está indisposto faz tudo para convencer seu dono de que está bem.” Nas últimas semanas, Pipa mesmo mais lenta, se esforçava para ser a mesma boa cachorra. Carinhosa, companheira, paciente. Semana passada quando minha filha deu a ela uma bolinha nova pra brincar, mesmo que não saísse correndo atrás dela como fazia quando era mais nova, foi buscá-la e deitou-se abraçada ao novo brinquedo em sinal de aprovação. Seu jeito estabanado de comer foi substituído por um certo comedimento, mas continuava a se alimentar bem. Pensamos até que ela tinha finalmente percebido que o mundo não ia se acabar enquanto ela comia. Mas não. Já eram sinais de que sua energia estava diferente.

Eu não estava em casa quando ela morreu. Tinha viajado a trabalho e antes de sair pro aeroporto, me aproximei dela cocei atrás de suas orelhas pretas e ela fechou os olhos, como sempre fazia. Dei-lhe um beijo na testa e disse pra ela agüentar firme pois o doutor viria em algumas horas ver como ela estava. Pipa me disse: “Pode ir, não se preocupe. Vou ficar bem.” Continuou deitada e não foi comigo ao portão como sempre ia. Fui embora mesmo assim.

Assim que desembarquei do avião, ao ligar meu telefone vi uma mensagem de texto: “Ligue pra casa assim que puder”. Já com lágrimas nos olhos disquei de volta e soube que Pipa tinha partido dez minutos antes da chegada de seu médico.

Não posso esconder que sinto culpa por tê-la perdido mas sei que a falta dela vai me fazer uma pessoa ainda mais responsável. Cuide bem do seu bichinho. Cuide mais do que você acha que deve, mesmo que ele tente te provar o contrário.

Fernanda Takai

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