Este é um daqueles assuntos incendiários que, pela sua natureza
polêmica, desperta ódio e paixão. Refiro-me ao consumo da carne como
alimento.
Decidi ingressar neste tema, importante e deprimente, inspirado na ótima matéria escrita pelo colega jornalista Marcio Renato dos Santos, do jornal Gazeta do Povo, sobre o livro “Comer Animais”, do escritor norte-americano Jonathan Safran Foer.
Militante da causa dos animais, já tinha recebido excelentes referências
da obra e do autor. Não sem motivos. Em 320 páginas, Foer desfila um
consistente rol de argumentos e um respeitável volume de dados que
confirmam o que todos nós sabemos, mas jamais admitimos: que os
abatedouros de animais são verdadeiros circos de horrores.
A grande contribuição do livro é discutir o consumo da carne como
alimento não apenas sob a perspectiva de quem tem pena dos animais, mas
de quem, baseado em fartas estatísticas, preocupa-se em denunciar o
violentíssimo impacto que este tipo de hábito traz ao meio ambiente.
A crueldade no processo de abate dos animais é assunto quase proibido.
Preferimos ignorá-lo porque, afinal, carne é um alimento saboroso e
pouca gente se dispõe a saber porque os animais são, quase sempre,
submetidos a atos de extrema crueldade antes de chegarem às mesas dos
consumidores. Não existe abate sem brutalidade. E esta crueldade, muitas
vezes gratuita, chega a extremos, longe dos nossos olhos.
Com a permissão do colega Marcio Renato dos Santos, cito um contundente
relato de Foer, à página 185 do livro: “Funcionários (de um abatedouro
de porcos) apagando cigarros na barriga
dos animais, (…), estrangulando-os e jogando-os em poços de esterco
para que se afogassem; (…) também enfiavam aguilhões elétricos nas
orelhas, bocas, vaginas e ânus dos porcos”.
Vi algo parecido in loco, incontáveis vezes, em abatedouros do Paraná e
de São Paulo. Bois e vacas de corte, por exemplo, agonizando meia hora
pendurados em correias, de ponta cabeça, depois de receber sucessivas
marretadas na cabeça (pistola a ar é artigo de luxo em 70% dos
matadouros do Brasil) e facadas na jugular, que inundam os matadouros
com poças de sangue. E o festival de horrores se repete em todos os
demais casos de abate de animais.
Mas passemos ao segundo aspecto do problema: os danos ao meio ambiente.
Foer revela que, “todo ano, são mortos 4,5 milhões de animais marinhos,
3,3 milhões de tubarões, 60 mil tartarugas marinhas e 20 mil golfinhos e
baleias”. Somente na pesca do camarão com rede de arrastão, o autor
explica que são jogados, por cima da amurada dos barcos, 80 a 90% dos
animais marinhos que vêm junto, na captura.
E há mais: “A criação animal usa, a cada ano, 756 milhões de toneladas
de grãos e cereais para alimentar aves, porcos e gado bovino, bem mais
do que o necessário para alimentar o 1,4 bilhão de seres humanos que
vivem em extrema pobreza”. O autor ainda revela que o setor pecuarista
responde por 18% das emissões de gás estufa no mundo.
Antes que alguém diga que precisamos consumir carne para garantir nossa
subsistência, lembro que há até fisiculturistas vegetarianos. Ainda que
este argumento fosse defensável, porém, devemos pensar se a nossa
suposta necessidade por este tipo de alimento justifica que submetamos
os animais a atos de crueldade, torturas e dores inimagináveis.
Irracionais não são apenas os animais; somos também nós, os humanos,
quando permitimos que este tipo de brutalidade ocorra.
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