segunda-feira, 30 de julho de 2012

Rodeio: A Verdade Atrás da Arena

Escrevemos esse relatório depois de estarmos presentes nos bretes do rodeio de Tarumã, cidade do interior do Estado de São Paulo. Nossas ações culminaram no vídeo que você pode assistir ao final dessa postagem. Observe que embora filmado em um rodeio específico, essa mesma situação se encontra presente em todo e qualquer outro lugar. Não há rodeio sem crueldade animal.
 
Enquanto os seres humanos não deixarem de confundir sadismo com diversão e entretenimento, viveremos subjugando outras espécies. Animais não são objetos, não são seres desprovidos de sentimentos e devemos olhar para eles como iguais. Devemos olhar para os animais como seres que têm direito à vida, à liberdade e à dignidade.


            Vamos ao relato.
Ao chegar ao rodeio, o primeiro instrumento usado para causar maus-tratos com o qual nos deparamos foi o sedém ou sedem, utilizado na região do vazio do animal. Pudemos observar que antes de ser liberado para a arena, o animal tem o sedém puxado bruscamente, a pressão faz com que o animal corcoveie de maneira regular, em pura tentativa de arrancar de si algo que está lhe infligindo dor e desconforto. Tanto é assim que, logo que o boi volta para o brete, um peão é designado para afrouxar o sedém e retirá-lo do animal. 
Os organizadores dizem que o sedém é feito de um material que não machuca os animais e que a função deste é apenas fazer cócegas. Só que eles esquecem que mesmo as cócegas poderiam ser tidas como um desconforto e qualquer desconforto será considerado como maus-tratos. Portanto, independentemente do material de que é feito o sedém, sua função é simples e objetiva: causar dor e desconforto ao animal.

Flagramos também peões dando socos e chutes nos bois, em uma maneira de tentar conduzi-los através do brete ou mesmo como tática para que os animais se sentissem ainda mais acuados e aterrorizados. Esses socos e chutes foram desferidos por vários peões em vários momentos diferentes. Além de agressões físicas, existiam até mesmo agressões verbais aos bois, xingamentos como “vagabundo”, “desgraçado”, etc eram comuns. Fica um pouco difícil entender o propósito de tais insultos, que só vêm a revelar a ideologia dessas pessoas, tornando-se gratuitas demonstrações das relações estabelecidas entre os peões e os animais. 
Além do sedém, dos socos, chutes e xingamentos, havia outros elementos usados para causar dor aos animais. Entre eles, as esporas, mesmo que sem pontas, e o sino pendurado na chamada corda americana, que se mantém presa na região posterior do animal, próxima ao peito. 
As esporas são um elemento óbvio de provocação, sendo usadas para que o animal corcoveie ainda mais na arena, podem causar danos maiores aos bois, dependendo do local onde é desferido o golpe. Os sinos são mais um dos vários instrumentos utilizados para gerar desconforto. São presos perto do aparelho auditivo do animal e servem para desorientar, criando sensação de pânico.
Além dos sinos, outro elemento sonoro que era capaz de deixar os animais em pânico eram os fogos de artifício que explodidos bem próximos do local onde ficavam os animais. Como se não fosse suficiente o extremo barulho desorientador gerado pelo sino e pelos fogos, a caixa de som do palco (onde aconteciam as apresentações) ficava menos de cinco metros de distância do brete, onde muitos bois ficavam posicionados.
A condução dos animais através do brete era feita de maneira precária. Além de se utilizar de socos e pontapés, os animais eram puxados pelo rabo e recebiam pauladas dos peões. O que para a organização era visto como algo comum, já que tinham nos informado a respeito disso. No entanto, não bastassem pauladas, socos e pontapés, conseguimos flagrar peões utilizando-se de um condutor de choques elétricos para organizar os bois depois que eles saiam da arena.  

Quando comentamos esse fato com o veterinário responsável, foi-nos dito que o aparelho estava desligado e que os animais estavam sendo conduzidos só pelo medo ao olharem para o instrumento de choque, ou seja, os animais já haviam recebido tanto choque através desse aparelho que estavam condicionados (tal qual o tratamento cruel destinado aos animais de circos) a evitá-lo. De qualquer maneira, o veterinário responsável não soube nos explicar porque ainda assim os peões encostavam o aparelho elétrico nos animais, já que só de manter contato visual com o aparelho, os animais, segundo ele, deixavam-se conduzir.  Não explicou também porque motivo os peões, quando nos viam por perto, tentavam esconder o condutor de choques elétricos e utilizavam-se “somente” dos paus para conduzir os bois.
Afora essas situações de maus-tratos já mencionadas, todos os animais estavam privados de água e comida durante a duração do evento. 
No entanto, o maior indicador de maus-tratos aos animais, não era essa falta de água ou comida, não era a condução de animais através de socos, pontapés, paus, condutor elétrico, não eram os insultos, os sinos presos aos animais, o som alto próximo, o sédem, mas a completa falta de respeito das pessoas ali presentes, que viam aquele animal não como um sujeito que deveria ser respeitado, mas como mero objeto e instrumento de “diversão” e “entretenimento”.


Impossível não pensar em como aquelas pessoas não se incomodavam com o próprio comportamento do animal ali no brete, ali na arena, sendo forçado a manter-se preso, tendo seus testículos amarrados, sendo agredido a todo instante. O que pudemos ver foi um animal amedrontado e acuado. Era impossível se aproximar de um boi sem que esse começasse a se mexer desesperadamente numa tentativa de afastar a pessoa que tentava se aproximar. Quando retornavam de sua “apresentação” na arena se debatiam contra as grades de metal numa tentativa desesperada de fuga. O terror era tão intenso e o stress tão freqüente que os animais chegavam a defecar em si mesmos momentos antes de adentrarem a arena de rodeio. Seu comportamento agressivo era uma clara demonstração do medo, do pânico, ao qual estavam sendo submetidos. 
Por isso ficamos ainda mais preocupados, não só pelos animais que estão ali, vítimas e escravos de uma tradição humana, mas por aquilo que os próprios humanos consideram e denominam como tradição. Enquanto considerarmos os animais como meros instrumentos que podem ser utilizados pelo homem até seu desgaste, meros objetos sem valor inerente, estaremos passando adiante uma tradição especista, baseada na escravidão animal e seu jugo diante do ser humano. Precisamos optar por tradições de paz, que busquem a harmonia entre as espécies do planeta Terra, tradições baseadas no respeito, na igualdade e na liberdade (valores essenciais à construção de uma sociedade mais justa). 
Os animais não são coisas, não são objetos, são seres dotados de vida e vontade própria. Os animais são, antes de qualquer coisa, sujeitos de sua própria existência.



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