domingo, 22 de junho de 2014

I

Minha primeira lágrima
caiu dentro de teus olhos
Tive medo de a enxugar:

para não saberes que havia caído.

No dia seguinte, estavas imóvel,
na tua forma definitiva,
Modelada pela noite,
pelas estrelas,
pelas minhas mãos.

Exalava-se de ti o mesmo frio do orvalho;

a mesma claridade da lua.

Vi aquele dia levantar-se inutilmente
para as tuas pálpebras,
E a voz dos pássaros
e a das águas correr,
- sem que a recolhessem teus ouvidos inertes.

Onde ficou teu outro corpo?

Na parede?

Nos móveis?

No teto?

Inclinei-me sobre o teu rosto,
absoluta, como um espelho,
E tristemente te procurava.

Mas também isso foi inútil,

como tudo mais.

Cecília Meireles 

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