terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Resíduo

De tudo ficou um pouco. Do meu medo. Do teu asco. Dos gritos gagos. Da rosa, ficou um pouco. Ficou um pouco de luz captada no chapéu. Nos olhos do rufião de ternura ficou um pouco, (muito pouco). Pouco ficou deste pó de que teu branco sapato se cobriu. Ficaram poucas roupas, poucos véus rotos, pouco, pouco, muito pouco. Mas de tudo fica um pouco. Da ponte bombardeada, de duas folhas de grama, do maço ― vazio ― de cigarros, ficou um pouco. Pois de tudo fica um pouco.
 Carlos Drummond de Andrade

Nenhum comentário:

Postar um comentário