quarta-feira, 1 de maio de 2013

ANÁLISE



Tão abstrata é a ideia do teu ser 
Que me vem de te olhar, que, ao entreter 
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista, 
E nada fica em meu olhar, e dista 
Teu corpo do meu ver tão longemente, 
E a ideia do teu ser fica tão rente 
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me 
Sabendo que tu és, que, só por ter-me 
Consciente de ti, nem a mim sinto. 
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto 
A ilusão da sensação, e sonho,
 Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
 Que te vejo, ou sequer que sou, risonho 
Do interior crepúsculo tristonho 
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.
Fernando Pessoa, 12-1911

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