sábado, 25 de junho de 2011

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Escuto a chuva batendo nas folhas, pingo a pingo.
Mas há um caminho de sol entre as nuvens escuras.
E as cigarras sobre as resinas continuam cantando.

 Tu percorrerias o céu com teus olhos nevoentos,
e calcularia o sol de amanhã,
e a sorte oculta de cada planta.
 
E amanhã descerias toda coberta de branco,
 brilharias à luz como o sal e a cânfora,
 tomarias na mão os frutos do limoeiro, tão verdes,
 e entre o veludo da vinha verias amar-se o cristal dos bagos.
 
 E olharias o sol subindo ao céu com asas de fogo.
 Tuas mãos e a terra secariam bruscamente.
 Em teu rosto, como no chão,
 haveria flores vermelhas abertas.

 Dentro do teu coração, porém, estavam as fontes frescas,
 susurrando.
E os canteiros viam-te passar
como a nuvem mais branca do dia.
                                                      Elegia, Cecília Meireles

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