sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A dor chega,
BANG,
e eis que ela te atinge.

É real.

E aos olhos de qualquer pessoa pareces um estúpido.
Como se te tornasses, de repente, num idiota.

E não há cura para isso,
a menos que encontres alguém
que compreenda realmente o que sentes
e te saiba ajudar…

Charles Bukowski

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

"Depois de estar com você, de sentir teu cheiro, tua pele, encostar a mão no seu rosto, ouvir coisas banais, enroscar meus dedos em seus cabelos, enfim, de sentir você, eu tenho, tive e sempre terei absoluta certeza de que eu não quero que você saia da minha rotina. Permaneça sempre, por favor."

Tati Bernardi

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Assim que vi você
Logo vi que ia dar coisa
Coisa feita pra durar,
Batendo duro no peito
Até eu acabar virando
Alguma coisa
Parecida com você
Parecia ter saído
De alguma lembrança antiga
Que eu nunca tinha vivido,
Mas ia viver um dia
Alguma coisa perdida
Que eu nunca tinha tido
Alguma voz amiga
Esquecida no meu ouvido
Agora não tem mais jeito,
Carrego você no peito
Poema na camiseta
Com a tua assinatura
Já nem sei se é você mesmo
Ou se sou eu que virei alguma coisa tua

Alice Ruiz

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço, por assim dizer
Quando convém aparecer
Ou quando quero
Quando quero

Desenho toda a calçada
Acaba o giz, tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És parte ainda do que me faz forte
Pra ser honesto
Só um pouquinho infeliz

Mas tudo bem
Tudo bem, tudo bem…
Lá vem, lá vem, lá vem
De novo
Acho que estou gostando de alguém
E é de ti que não me esquecerei

Renato Russo

domingo, 26 de outubro de 2014

Não sei se você ainda é a mesma
Ou se cortou os cabelos
Rasgou o que é meu
Se ainda tem saudades
E sofre como eu
Ou tudo já passou
Já tem um novo amor
Já me esqueceu

Chico Buarque

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já.

Pablo Neruda

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Se te pareço ausente, não creias:
hora a hora minha dor agarra-se aos teus braços,
hora a hora meu desejo revolve teus escombros,
e escorrem dos meus olhos mais promessas.
Não acredites nesse breve sono;
não dês valor maior ao meu silêncio;
e se leres recados numa folha branca,
Não creias também: é preciso encostar
teus lábios nos meus lábios para ouvir.

Nem acredites se pensas que te falo:
palavras são meu jeito mais secreto de calar.
Lya Luft

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Carolina

Nos seus olhos fundos

Guarda tanta dor

A dor de todo esse mundo

Eu já lhe expliquei que não vai dar

Seu pranto não vai nada mudar

Eu já convidei para dançar

É hora, já sei, de aproveitar

Lá fora, amor

Uma rosa nasceu

Todo mundo sambou

Uma estrela caiu

Eu bem que mostrei sorrindo

Pela janela, ói que lindo

Mas Carolina não viu

Carolina

Nos seus olhos tristes

Guarda tanto amor

O amor que já não existe

Eu bem que avisei, vai acabar

De tudo lhe dei para aceitar

Mil versos cantei pra lhe agradar

Agora não sei como explicar

Lá fora, amor

Uma rosa morreu

Uma festa acabou

Nosso barco partiu

Eu bem que mostrei a ela

O tempo passou na janela

Só Carolina não viu

Chico Buarque

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.

Pablo Neruda

domingo, 12 de outubro de 2014

Hoje, acordei sentindo uma grande dor no peito; sentei-me ao pé da cama, coloquei minha mão sobre meu peito, e perguntei ao meu coração:

- O que você tem?Porque está tão inquieto dentro de mim?
Você está doente?

Fiquei uns minutos em silêncio e aí foi minha alma a começar a ficar inquieta. Perguntei a ela:

- O que tens? Porque se atormenta dentro de mim?

Minha alma disse:

- Estou assim porque você está assim; você me faz perguntas, mas não tenho as respostas e sei que isso o faz infeliz. Você se sente tão pequeno, e isso me faz pequeno também. Você queria ser diferente e eu fico triste por você. Você está tão só, e eu me sinto sem você. Mais uma vez tornei a ficar em silêncio.

E foi aí que meu coração meio confuso me respondeu:

- Estou tão triste. Sinto-me tão pequeno. Estou magoado com você!

Fiquei sem jeito e perguntei:

- O que foi que eu te fiz?

Ele respondeu:

Você sofre tanto com as pessoas; preocupa-se com elas, é atencioso, procura ser prestativo e na maioria das vezes, sempre se decepciona. Você ama e depois sofre e fala que a culpa é minha. Você espera por algo que não vem e fica triste. Aí você chora e dói em mim. Preciso de curativos para um coração partido. Curativos bons.

Perguntei ao meu coração:

- Como assim, bons?


Ele respondeu:

Curativos que estanquem essa sua tristeza, essa sua mágoa,
essa sua solidão. Que estejam com você nos dias frios e nas noites vazias, nos dias de tempestade e nas horas que você se sentir tão só. Que eles sejam tão grandes que possam envolver seu corpo em um abraço cheio de ternura e que você se sinta seguro e amparado.
Curativos que te façam sentir o quanto você é especial e amado, mesmo que você nunca tenha sentido esse amor, nem de seus próprios pais. Preciso de bons curativos, que não sejam eternos, afinal nada é para sempre, mas, que não sejam descartáveis. Curativos que absorvam esse sofrimento, essa dor. essa ferida que não se vê, apenas se sente. Que sejam fortes, e a prova d’água, para que não se estraguem com suas lágrimas, que sejam macios, para poder te fazer carinho nos dias em que você se sentir carente. Curativos que, acima de tudo nunca o decepcionem, prometendo coisas que não cumpram. Curativos companheiros e sinceros, que se importem realmente com você. Não quero pena, quero amor. Amor de verdade. Preciso que você também se ame e prometa que vai procurar cuidar mais de mim, sou parte de você e se você sofre eu sofro também.
Queria poder colocar você dentro de mim, secar suas lágrimas, ninar você. Dizer-te que tudo vai passar e te proteger das decepções da sua vida, afinal você já sofreu tanto que não sei como ainda consigo bater forte em seu peito! Você é especial, pena ninguém perceber isso.

Lorenzzo Marchesin Francischett

sábado, 11 de outubro de 2014

outra cama

outra mulher

mais cortinas

outro banheiro

outra cozinha

outros olhos

outro cabelo

outros

pés e dedos.

todos à procura.

a busca eterna.

você fica na cama

ela se veste para o trabalho

e você se pergunta o que aconteceu

à última

e à outra antes dela…

é tudo tão confortável —

esse fazer amor

esse dormir juntos

a suave delicadeza…

após ela sair você se levanta e usa

o banheiro dela,

é tudo tão intimidante e estranho.

você retorna para a cama e

dorme mais uma hora.

quando você vai embora é com tristeza

mas você a verá novamente

quer funcione, quer não.

você dirige até a praia e fica sentado

em seu carro. é meio-dia.

— outra cama, outras orelhas, outros

brincos, outras bocas, outros chinelos, outros

vestidos

cores, portas, números de telefone.

você foi, certa vez, suficientemente forte para viver sozinho.

para um homem beirando os sessenta você deveria ser mais

sensato.

você dá a partida no carro e engata a primeira,

pensando, vou telefonar para janie logo que chegar,

não a vejo desde sexta-feira.

Charles Bukowski

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter amado.
Guimarães Rosa

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Luto

A gente nunca imagina quando vai acontecer, a gente passa a vida temendo, se preparando.
Mas por mais que a gente saiba que é inevitável, nunca estamos realmente preparados.
E hoje, o que era pra ser apenas mais um dia como os outros, você tristemente nos deixou.
Foram dez anos nos dando alegria, dez anos de companhia, dez incríveis anos em que tive o prazer de te ter como meu melhor amigo. Posso me lembrar da primeira vez em que te vi, uma bolinha de pelos minúscula, lembrar das brincadeiras, de tantas coisas que passamos juntos. Você cresceu comigo, e permaneceu comigo até seus últimos instantes, fiz de tudo, mas realmente chegou a sua hora, E enquanto eu estiver viva você nunca morrerá, estará no meu coração, nas palavras, nas lembranças. Eu te amo, esteja onde estiver meu Floquinho, só enquanto eu respirar, vou me lembrar de você...

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Domingo ela acordava mais cedo para ficar mais tempo sem fazer nada. O pior momento de sua vida era nesse dia ao fim de tarde: caía em meditação inquieta, o vazio do seco domingo. Suspirava. Tinha saudade de quando era pequena – farofa – e pensava que fora feliz. Na verdade por pior a infância é sempre encantada, que susto. Nunca se queixava de nada, sabia que as coisas são assim mesmo.
Clarice Lispector

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que rí e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi outras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida…

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago…
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim…

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

De todas as maneiras que há de amar.
Ouça um bom conselho que eu lhe dou de graça:
eu semeio o vento na minha cidade,
vou pra rua e bebo a tempestade.
Chico Buarque