quinta-feira, 31 de julho de 2014

"Quando era jovem, eu vivia deprimido. Mas, agora, o suicídio não era mais uma saída pra mim. É o que parecia. Na minha idade, já não sobrava muito o que matar."
- BUKOWSKI, Charles. Mulheres

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Já não me importo

Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.

Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,

Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,

Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.

E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 25 de julho de 2014

"Chego, às vezes, a suspeitar que os poetas, os verdadeiros poetas, são uma espécie de erro de programação genética. Aquele produto que saiu com falha, entre dez mil, um sapato saiu meio torto. O poeta é aquele sapato que tem consciência de linguagem, porque somente o torto sabe o que é direito. Então o poeta seria um ser dotado de erro, donde essa tradição romântica de marginalidade, do poeta como bandido, banido, perseguido."
- Paulo Leminski

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…

Mario Quintana

segunda-feira, 21 de julho de 2014

A DOR QUE DÓI MAIS

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
Martha Medeiros

sábado, 19 de julho de 2014

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Pablo Neruda

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Quero agarrá-la, mas escapa-se.
E, já longe, chama-me outra vez
do atalho …
Quero o que não tenho
e tenho o que não quero.
Rabindranath Tagore

quarta-feira, 16 de julho de 2014

ME BEIJE COMO SE QUISESSE SER AMADO

Tenho fome da tua boca, da tua voz, do teu cabelo,
e ando pelas ruas sem comer, calado,
não me sustenta o pão, a aurora me desconcerta,
busco no dia o som líquido dos teus pés.

Estou faminto do teu riso saltitante,
das tuas mãos cor de furioso celeiro,
tenho fome da pálida pedra das tuas unhas,
quero comer a tua pele como uma intacta amêndoa.

Quero comer o raio queimado na tua formosura,
o nariz soberano do rosto altivo,
quero comer a sombra fugaz das tuas pestanas

e faminto venho e vou farejando o crepúsculo
à tua procura, procurando o teu coração ardente
como um puma na solidão de Quitratue.

Pablo Neruda

terça-feira, 15 de julho de 2014

“Escuto qualquer coisa e é você. Leio qualquer coisa e é você, até no meio das histórias que caem mais para o terror do que para o romance. Vejo filmes que, de uma forma ou de outra, encontro você nos personagens mais inimagináveis. A moça do livro foi só mais uma em que te vi. Tantos meses depois ainda é você qeu vejo, leio, escuto… Mesmo quando não acredita, se é que algum dia acreditou. Mesmo que hoje pareça tão sem sentido, tão sem graça caído numa rotina qualquer. Mesmo que você vá perdendo o seu encanto por mim, ainda me encantas. E nessa coisa de acreditar que tudo é passageiro eu fico pedindo por só mais um dia. Até que, de uma vez por todas, você diga “nunca mais”. Mesmo assim, mais do que antes, eu vou te pedir só mais um dia pela miléssima vez. Porque você está até no que ainda não vivi.”
Camila Costa.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto    tão perto    tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny

domingo, 6 de julho de 2014

Dize-me, amor, como te sou querida,
Conta-me a glória do teu sonho eleito,
Aninha-me a sorrir junto ao teu peito,
Arranca-me dos pântanos da vida.
Florbela Espanca

sábado, 5 de julho de 2014

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Talvez tu não acredites
mas
amor e ódio existem em toda parte
existe amor em aeroporto
existe amor
em ponto de ônibus
existe amor
na beira do abismo
existe ódio em meio a um sorriso


não me convém pensar em algo lúcido
amar é ter um pé infalso com o artifício
artifício de querer-te
desejar-te
odiar-te
devorar-te
esquecer-te.

Gabriela Vieira

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Não posso mais ouvir em silêncio.
Preciso falar com você pelos meios de que disponho neste momento.
Você partiu minha alma.
Sou metade agonia, metade esperança.
Não me diga que é tarde demais,
que sentimentos tão preciosos foram-se para sempre.
Ofereço-me para você de novo
com um coração muito mais seu
do que quando você quase o despedaçou há oito anos e meio atrás.
Não se atreva a dizer
que o homem esquece mais rápido do que a mulher,
que seu amor morre mais cedo.
Eu tenho amado somente você, mais ninguém.
Injusto posso ter sido, fraco e ressentido também,
mas nunca inconstante.

Jane Austen

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Anda, vem… por que te négas,
Carne morêna, toda perfume?
Por que te cálas,
Por que esmoreces
Boca vermêlha, - rosa de lume!

Se a luz do dia
Te cóbre de pêjo,
Esperemos a noite presos n’um beijo.

Dá-me o infinito goso
De contigo adormecer,
Devagarinho, sentindo
O arôma e o calôr
Da tua carne, - meu amôr!

E ouve, mancebo aládo,
Não entristeças, não penses,
- Sê contente,
Porque nem todo o prazer
Tem peccado…

Anda, vem… dá-me o teu corpo
Em troca dos meus desejos;

Tenho Saudades da vida!

Tenho sêde dos teus beijos!

António Botto

terça-feira, 1 de julho de 2014

Quanta tristeza
Há nesta vida
Só incerteza
Só despedida

Amar é triste
O que é que existe?
O amor

Ama, canta
Sofre tanta
Tanta saudade
Do seu carinho
Quanta saudade

Amar sozinho
Ai de quem ama
Vive dizendo
Adeus, adeus

Vinicius de Moraes