Não somos iguais aos outros animais, porque possuímos essa capacidade de raciocínio, e justamente por isso, nos julgamos superiores aos outros seres. Mas, a racionalidade do homem não traz superioridade, e sim muita responsabilidade. Não existe superioridade na natureza, existe unidade. Estamos todos conectados. O mal que você faz ao próximo é o mal que faz a si mesmo. A cura que você proporciona ao próximo é a cura para as próprias enfermidades. E como próximo eu me refiro a tudo que existe.
O argumento da superioridade humana para justificar a exploração dos outros animais é, sem dúvida, fascista, e argumentos semelhantes já foram empregados para justificar a escravidão dos negros, a dominação e invasão de países e territórios, a submissão feminina, diversos genocídios, só para citar alguns exemplos. E muitas coisas que hoje consideramos atrocidades históricas, já foram socialmente aceitas. E tantas coisas que são socialmente aceitas e apoiadas hoje, no futuro serão entendidas como o absurdo que são.
É preciso lembrar que não é possível que uma pessoa consuma carne e seja ambientalista ao mesmo tempo, ou se diga sensível pela causa animal, se dizendo contra testes em animais, exploração em circos, rodeios, maus tratos de animais domésticos… e consumindo carne? Usando acessórios de couro? Não soa coerente, concorda? Ingerir carne é semelhante às posturas narradas acima, é a mesma coisa que maltratar qualquer animal, só que é socialmente aceito, porque é bom para a economia, porque é comum, porque todo mundo faz. Como é socialmente aceito, quem consome pensa que não está fazendo nada demais. Oras, nem tudo que é socialmente aceito é necessariamente moral. Nós sabemos bem disso, tantas coisas que atualmente são consideradas comuns, mas estão longe de ser enquadrar até nas mais liberais concepções de moral, o rol é extenso.
Apenas evitamos refletir e fazer uma autocrítica em relação ao consumo de carne, de couro animal, por pura conveniência, comodismo. A autocrítica dói, refletir dá trabalho, tomar uma postura diferente da maioria é um ato de coragem e traz consequências sociais, que nem todos estão dispostos a encarar. Mas dói mais ainda, o sofrimento dos nossos amigos animais, diariamente, para sustentar luxos desnecessários.
Ser vegano é muito fácil, existem diversas opções de alimentos sem origem animal, sem sofrimento, acontece que a cultura te impossibilita de enxergar o quão fácil é seguir o melhor caminho. Está na hora de refletir, você, ser humano, animal racional, vivendo em uma sociedade organizada e civilizada, não precisa seguir tradições, obedecer a costumes. E sabe por quê? Porque você pensa e deve seguir seus próprios sentimentos e a sua concepção de moral. Deve evoluir, porque assim deve caminhar a humanidade.
As pessoas que não sentem fraternidade por todos os seres, não praticam a racionalidade em sua plenitude, então, carecem de humanidade.
Por que você come carne?
Faça essa pergunta a si mesmo, caso não encontre uma resposta racional e razoável, é hora de parar. Uma simples recusa na hora de comer, uma escolha na hora de comprar cosméticos, roupas, bolsas, e você estará salvando vidas e, incentivando o fim de uma indústria cruel que não pode ter espaço em uma sociedade civilizada e formada por seres racionais.
Assim eu acredito… que somos racionais. Nós ainda somos?
Ohana Nery é advogada criminalista de Vitória, Espírito Santo
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