segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Um jardineiro desconhecido se ocupará da simetria
desse pequeno mundo em que estás.

Suas mãos vivas caminharão acima das tuas, em descanso,
das tuas que calculavam primaveras e outonos,
fechadas em sementes e escondidos na flor!

Tua voz sem corpo estará comandando,
entre terra e água,
o aconchego das raízes tenras,
a ordenação das pétalas nascentes.

À margem desta pedra que te cerca,
o rosto das flores inclinará sua narrativa:
história dos grandes luares,
crescimento e morte dos campos,
giros e músicas de pássaros,
arabescos de libélulas roxas e verdes.
Conversareis longamente,
em vossa linguagem inviolável.
Os anjos de mármore ficarão para sempre ouvindo: 
que eles também falam em silêncio.

Mas a mim – se te chamar, se chorar – não me ouvirás
por mais perto que venha, não sou mais que uma sombra
caminhando em redor de uma fortaleza.

Queria deixar-te aqui as imagens do mundo que amaste:
o mar com seus peixes e suas barcas;
os pomares com cestos derramados de frutos;
os jardins de malva e trevo, com seus perfumes
brancos e vermelhos.

E aquela estrela maior, que a noite levava na mão direita.
E o sorriso de uma alegria que eu não tive,
mas te dava.
                                          Elegia, Cecília Meireles

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Quem me dera ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente.

                                   Indios, Legião Urbana.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Faço as pazes lembrando
Passo as tardes tentando
Te telefonar
Cartazes te procurando
Aeronaves seguem pousando
Sem você desembarcar
Pra eu te dar a mão nessa hora
Levar as malas pro Fusca lá fora...
                                 Luz dos Olhos, Nando Reis

sábado, 20 de agosto de 2011

Tenho ciúmes deste cigarro que você fuma
Tão distraidamente.
                  Ciúmes, Ana Cristina Cesar.